sábado, 31 de outubro de 2015

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Fico bue malaique com aquela kota Tia Bela, que tinha uma bancada na ponta da rua em que vivi,  formou 4 filhos (3 rapazes e uma menina), com o dinheiro do negócio do Bombó com ginguba.
O marido faleceu muito cedo na guerra, e daí para fente a kota ja não arranjou outro, felizmente o kota deixou uma casa para a família mas nada mais do que isso. Sozinha, ela teve de alimentar os miúdos, o segundo (José) ficava constantemente doente, os outros 3 choravam enquanto consolavam a mãe com um abraço.

De noite, ela conversa com os meninos e pedia para eles estudarem e honrarem a alma do pai, ensinava-lhes valores como a humildade, obediência, sinceridade, honestidade, lealdade, irmandade e paciência, tudo isso em acções e com uma linguagem que misturava um portugues meio que a se  arranhar e um dialeto do sul de Angola bem fluente. O que mais me impressiona é que ela não aprendeu a ler, mas todos os dias quando os meninos chegavam da escola, ela obrigava-os a fazerem as tarefas, na verdade, ela não precisava de entender, bastava ver os filhos sentados a escrever que tinha a certeza que eles estavam estudando, e assim era na verdade.

Todos passavam por escolas públicas até o ensino médio, o problema era entrar para a faculdade. A mãe não tinha condições para pagar e nas faculdades públicas existiam poucas vagas.  Mateus terminou o médio de eletricidade, conseguiu uma bolsa de estudo depois de 3 anos sem estudar, formou-se em Eletrônica na Rússia. José, fez direito na faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. Marisa, essa me faz lembrar uma música de um jovem rapper Angolano “AL  MC”, em que ele dizia: Tinha ela 19 Anos e namorava mais velhos, kotas que davam saldos, roupas caras e aparelhos. Só que diferente da miúda do som, Marisa sempre usou preservativo e com os braços que partiu se formou em Gestão de Empresas. O último, Alberto (Betinho, chará do pai), é engenheiro informático.

Hoje eles são muito gratos a mãe, que com pouco, lhes deu amor, educação e um teto, foram humilhados na escola por não terem boas roupas nem o que comer em casa. Foram ignorados por pessoas com quem se apaixonaram por serem pobres mas hoje a vida deu a volta e eles têm o que comer e o que vestir.

Hoje fui ao bairro que me viu crescer e encontrei a Tia Bela a chorar de emoção, afinal de contas Mateus,a 3 meses atrás conseguiu uma casa no Kilamba para a mãe passar o resto da vida no conforto, com a ajuda de José, Marisa e Betinho, a casa foi apetrechada com sofás em condições, camas, ar condicionados, fogão como o do Mara Dalva (rsrsrrs) e plasmas na sala e nos quartos. Tia Bela me viu chegar e veio me abraçar e com sorriso e lágrimas nos olhos dizia:

Filho vou morar no Kilamba, Filho vou morar no Kilamba, Filho vou morar no Kilamba.

História: Aureo Luvualu ( AL MC)

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